Canção V Já a roxa manhã clara do Oriente as portas vem abrindo, dos montes descobrindo a negra escuridão da luz avara. O Sol, que nunca pára, de sua alegre vista saudoso, trás ela, pressuroso, nos cavalos cansados do trabalho, que respiram nas ervas fresco orvalho, se estende, claro, alegre e luminoso. Os pássaros, voando de raminho em raminho, modulando com üa suave e doce melodia, o claro dia estão manifestando. A manhã bela e amena seu rosto descobrindo, a espessura se cobre de verdura branda, suave, angélica, serena. Ó deleitosa pena, ó efeito de Amor tão preeminente que permite e consente que, onde quer que me ache e onde esteja, o seráfico gesto sempre veja, por quem de viver triste sou contente! Mas tu, Aurora pura, de tanto bem dá graças à ventura, pois as foi pôr em ti tão diferentes, que representes tanta fermosura. A luz suave e leda a meus olhos me mostra por quem mouro, e os cabelos de ouro não igual' aos que vi, mas arremeda: esta é a luz que arreda a negra escuridão...